1.
O Tao
O caminho que pode ser seguido
não é o Caminho Perfeito.
O nome que pode ser dito
não é o Nome eterno.
No princípio está o que não tem nome.
O que tem nome é a Mãe de todas as coisas.
Para que possamos observar os seus segredos
devemos permanecer sem desejos.
Mas se em nós mora o desejo
a única coisa que podemos contemplar é a sua forma
externa. A casca que a essência oculta.
Esses dois estados existem para sempre inseparáveis.
Diferentes unicamente em nome.
Conjuntamente idênticos, unidos, integrados.
São os chamados Mistérios!
Mistério além dos mistérios
O Portal que conduz a tudo aquilo que é sutil e maravilhoso
Ao recôndito sagrado de todas as essências!
não é o Caminho Perfeito.
O nome que pode ser dito
não é o Nome eterno.
No princípio está o que não tem nome.
O que tem nome é a Mãe de todas as coisas.
Para que possamos observar os seus segredos
devemos permanecer sem desejos.
Mas se em nós mora o desejo
a única coisa que podemos contemplar é a sua forma
externa. A casca que a essência oculta.
Esses dois estados existem para sempre inseparáveis.
Diferentes unicamente em nome.
Conjuntamente idênticos, unidos, integrados.
São os chamados Mistérios!
Mistério além dos mistérios
O Portal que conduz a tudo aquilo que é sutil e maravilhoso
Ao recôndito sagrado de todas as essências!
Comentário (Murillo N. Azevedo)
Qual a distinção entre o caminho e o Caminho? Um pode ser
seguido, o outro não. O que pode ser seguido é o velho, o que está na memória,
o produto do condicionamento e de velhos hábitos, o que nos foi imposto pelo
conhecimento proveniente de terceiros. O caminho que não pode ser seguido é o
novo, o espontâneo, o que de instante a instante se revela. Caminho é sempre
novo, dependente das configurações, não é algo a ser encontrado num velho
alfarrábio ou num mapa. Aqueles que têm “olhos” para ver o “aqui e agora”
poderão divisar instantaneamente, escancarado diante dos seus pés, o verdadeiro
Caminho.
E quanto ao
nome? A mesma dúvida permanece. Recordemos a característica instantânea da
manifestação. Todas as coisas são concentrações espácio-temporais com
determinada duração. Há, entretanto, um abismo muito grande nos nomes que damos
às coisas, que nada mais são que rótulos entre elas e a realidade última. O
verdadeiro nome é aquele que poderia ser percebido por um ouvido cósmico, que
fosse capaz de captar a vibração de um objeto com toda a nitidez. O sentido
profundo dos mantras na escola Tantra está aqui revelado.
Evidentemente, antes de toda a existência, havia algo que não tinha nome. Era o
seio que encerrava todas as coisas que um dia nasceriam. A Mãe Cósmica é aquela
que já possui um nome. No Budismos Zen há uma pergunta, um Koan, com que se
testa o candidato ao conhecimento supremo: “ Qual era a tua face antes de
nascerem teus pais?” A “resposta” lançará luz sobre o pequeno trecho do Tao Té
Ching que estamos comentando.
“Para que possamos
observar seus segredos, temos de permanecer sem desejo”. O desejo é sempre uma
ânsia de complementação. Um processo compensatório, que pode ser verificado no
simples desejo de alimento, no qual a fome, que é a própria imagem do desejo,
cessa quando o alimento é ingerido. Mas como podemos observar alguma coisa se
estamos sempre nela nos projetando através dos nossos desejos? Se estamos
sempre sugando o que observamos para completar nosso vazio interno? Todos os
testes projetivos da psicologia demonstram que, através do mecanismo
compensatório dos desejos, o homem projeta-se na coisa observada. Quando cessam
os desejos, então podemos observar a coisa nua, pura, tal como é diante de nós.
Sem qualquer contaminação. Se, entretanto, “o desejo mora em nós, a única coisa
que podemos contemplar é a sua forma externa”. “A casca que a essência oculta”.
Para o Tao
Té Ching essas duas coisas existem para sempre interligadas: a casca e a
essência. É um fato. Ao observar o homem, jamais podemos deixar de lado o
interno, o lado oculto, sob pena de transformarmos as relações humanas em algo
puramente externo. Esse é o Mistério. Aquilo que aqui é chamado de
simbolicamente de Portal. Cada coisa, portanto, é como um portão escancarado
diante de nós. Todas elas nos levarão à essência primordial. Ao Tao.
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