domingo, 8 de setembro de 2019



Os próximos 18 meses serão cruciais para salvar o planeta

Consenso entre especialistas. O ano de 2020 é visto como chave no combate ao aquecimento; para alguns, é o limite para a redução de emissões de dióxido de carbono - e para que a meta de aumento de 1,5ºC  na temperatura global seja mantida.

TOPO         BBC
25/07/2019 08h32

Lembra-se quando se dizia que tínhamos "12 anos para salvar o planeta" ?
Agora, porém, há um consenso crescente de que os próximos 18 meses serão primordiais para se lidar com a crise do aquecimento global e das mudanças climáticas, entre outros desafios ambientais.

No ano passado, o Painel Inter governamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) informou que, para manter o aumento das temperaturas médias globais abaixo de 1,5 ºC até o final deste século, as emissões de dióxido de carbono teriam que ser reduzidas em 45%  até 2030.
Mas hoje, os cientistas reconhecem que os passos políticos decisivos para permitir que os cortes no carbono ocorram de facto terão de ser dados antes do final do próximo ano.
A ideia de que 2020 é um prazo importante foi abordada por um dos principais cientistas do clima do mundo, em 2017. "A matemática do clima é brutalmente clara: embora o mundo não possa ser curado nos próximos anos, pode ser fatalmente ferido por negligência até 2020", disse Hans Joachim Schellnhuber, fundador e actual director emérito do Instituto Potsdam de Pesquisas sobre o Impacto Climático.

A sensação de que o final do próximo ano seria uma espécie de prazo de última chance para conter os efeitos devastadores das mudanças climáticas está ficando cada vez mais evidente.
"Acredito firmemente que os próximos 18 meses decidirão nossa capacidade de manter a mudança climática em níveis de sobrevivência e restaurar a natureza ao equilíbrio que precisamos para nossa sobrevivência", disse o príncipe Charles, falando numa recepção recente para ministros do Commonwealth, a comunidade que aglutina o Reino Unido e várias ex-colónias britânicas.
Então, porque são tão importantes os próximos 18 meses?

O príncipe Charles estava-se referindo a importantes reuniões da ONU sobre o clima, marcadas até o final de 2020. Desde que um acordo climático global foi assinado em Paris, em Dezembro de 2015, negociadores têm-se empenhado em firmar um conjunto de normas a serem seguidas pelos signatários do pacto.
Ainda, segundo os termos do acordo, os países também prometeram avançar com os seus planos de corte de emissões de carbono até o final de 2020.
Uma dos destaques do relatório do IPCC lançado no ano passado foi a estimativa de que as emissões globais de dióxido de carbono têm de atingir seu pico em 2020, para viabilizar o objectivo do máximo de aumento de 1,5 ºC até o final do século.

Os planos actuais não são suficientemente fortes para manter as temperaturas abaixo do chamado limite seguro.
Neste momento, estamo-nos encaminhando para 3 ºC de aquecimento até 2100.
Como os países geralmente planeiam seus programas de redução com prazos de cinco e dez anos, para se atingir a meta de corte de carbono de 45% até 2030, os planos realmente precisam estar na mesa até o final de 2020.

Os próximos passos
O primeiro grande evento será a Cúpula para Acção Climática, convocada pelo secretário-geral da ONU, António Guterres. Será realizada em Nova York, em 23 de Setembro.
Guterres tem deixado claro que a cúpula só fará sentido se os países participantes levarem ofertas significativas para melhorar seus planos nacionais de corte de emissões.
Esse encontro será seguido pela COP25 em Santiago do Chile, que terá a importância de manter o processo em andamento.
Mas o momento-chave deverá ser a COP26, provavelmente no Reino Unido, que será realizada no final de 2020.
O governo britânico acredita poder usar a oportunidade da COP26, num eventual mundo pós-Brexit (após a saída do Reino Unido da União Europeia), para mostrar que a Grã-Bretanha tem força para construir a vontade política para os avanços necessários, da mesma forma que os franceses usaram sua força diplomática para fazer acontecer o acordo de Paris .
"Se obtivermos sucesso na nossa oferta (para sediar a COP26), garantiremos a construção do acordo de Paris e reflectiremos nas evidências científicas de que precisamos ir mais longe e mais rápido", disse recentemente o ministro do Meio Ambiente do Reino Unido, Michael Gove - na sua  última provável fala no cargo (ele terá outro cargo no gabinete do novo primeiro-ministro, Boris Johnson, que assumiu na quarta-feira).
"E precisamos da COP26 para garantir que outros países levem a sério suas obrigações e isso significa liderar pelo exemplo. Juntos, devemos tomar todas as medidas necessárias para restringir o aquecimento global a pelo menos 1,5 ºC"
Razões para ser optimista
Nos últimos anos, talvez pelas ondas extremas de frio e calor, ou pela actividade de activistas como a adolescente sueca Greta Thunberg e do grupo britânico Extinction Rebellion (que paralisou Londres durante uma semana em Abril), parece haver um nítido aumento no interesse público pelas mudanças climáticas e outros problemas relativos à natureza e por ideias que as pessoas possam pôr em prática nas suas próprias vidas.

Os pedidos de acção estão ficando mais vigorosos, e os sinais são de que políticos em muitos países acordaram para essas mudanças.
Ideias como o New Green Deal, (o Novo Plano Verde, com acções como a "descarbonização" da economia americana), proposto por políticos democratas, que pareciam inviáveis há alguns anos, ganharam força real recentemente.
A percepção do príncipe Charles de que os próximos 18 meses são críticos é compartilhada por alguns representantes de países nas negociações sobre o clima.
"Nosso grupo de pequenos estados insulares em desenvolvimento compartilha do sentimento do príncipe Charles da profunda urgência por uma acção climática ambiciosa", disse a embaixadora Janine Felson, do Belize, estrategista-chefe do grupo da Aliança dos Pequenos Estados Insulares da ONU.
"De uma só vez, somos testemunhas de uma convergência colectiva da mobilização pública. Os impactos climáticos estão piorando e há fortes alertas científicos que pedem uma liderança climática decisiva".
"Sem dúvida, 2020 é um prazo importante para que a liderança finalmente se manifeste."
Razões para ser pessimista
A provável COP26 no Reino Unido em 2020 também poderia ser o momento em que os EUA finalmente deixariam o acordo de Paris, conforme Donald Trump anunciou em 2017.
Mas se Trump não vencer nas eleições americanas do próximo ano, a posição do país pode mudar. Um presidente democrata, por exemplo, provavelmente reverteria a decisão.
Qualquer passo pode ter enormes consequências para a luta pelo clima.
Neste momento, vários países parecem dispostos a desacelerar as mudanças propostas. Em Dezembro passado, os EUA, a Arábia Saudita, o Kuwait e a Rússia bloquearam um relatório especial do IPCC que estabelecia a necessidade de se manter o tecto dos 1,5ºC de aumento.
Algumas semanas atrás, em Bonna, na Alemanha, novas objecções da Arábia Saudita impediram que o tema entrasse em negociações da ONU.
Haverá pressão significativa sobre o país anfitrião do COP26 em 2010 para que este garanta um progresso substancial. Mas, se houver um tumulto político em torno do Brexit, o governo britânico pode não ter estofo necessário para lidar com os múltiplos desafios globais que a mudança climática apresenta.
"Se não pudermos usar este momento para acelerar nossas ambições, não teremos hipótese de chegar a um limite de 1,5 ou 2ºC (de aumento da temperatura)", disse o professor Michael Jacobs, da Universidade de Sheffield, ex-assessor para o Clima do ex-primeiro-ministro do Reino Unido, Gordon Brown.
E isto não é tudo sobre as mudanças climáticas
Embora as decisões tomadas sobre a mudança climática no próximo ano sejam críticas, há uma série de outras reuniões importantes sobre o meio ambiente que moldarão as acções para a preservação de espécies e a protecção dos oceanos nas próximas décadas.
No início deste ano, um grande estudo sobre as perdas de espécies na natureza e resultados mais amplos do impacto humano causou uma grande agitação entre governos.
O relatório da Plataforma Inter governamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistémicos mostrou que até um milhão de espécies poderão ser perdidas nas próximas décadas.
Por causa disto, os governos reunir-se-ão na China no próximo ano para tentar chegar a um acordo que proteja animais de todos os tipos.
A Convenção sobre Diversidade Biológica é o órgão da ONU encarregado de elaborar um plano para proteger a natureza até 2030.
A reunião do próximo ano poderia levar a uma espécie de "acordo de Paris" para o mundo natural. Se houver acordo, é provável que haja ênfase na agricultura e pesca sustentáveis. Ele deverá pedir maior protecção às espécies e impor limites ao desmatamento.
No próximo ano, a Convenção das Nações Unidas sobre as Leis do Mar também se reunirá para negociar um novo tratado global sobre os oceanos.

Se tudo isto acontecer, o mundo pode ter uma chance de preservar o meio ambiente.



Sem comentários:

Enviar um comentário