Principais autoridades ligadas ao clima unem-se em campanha colaborativa para mobilizar sectores-chave da economia
O ano de 2020 será crítico para o futuro do clima.
Caso as emissões continuem a subir além dessa data, os objectivos do Acordo de Paris tornam-se praticamente inalcançáveis, concluiu um grupo de especialistas no assunto, liderados pela diplomata Christiana Figueres, ex-secretária-executiva da Convenção do Clima das Nações Unidas. Publicaram, em 28 de Junho, na revista científica Nature, um plano para manter as emissões de gases de efeito estufa sob controle até 2020.
Baptizado de “Missão 2020”, o documento traça metas de emissão de gases para seis sectores da economia: energia, infraestrutura, transporte, uso da terra, indústria e finanças.
O documento foi divulgado uma semana antes dos líderes das maiores economias do mundo se reunirem em Hamburgo, na Alemanha, na reunião do G20. É o primeiro encontro multilateral realizado após o anúncio de Donald Trump de que os EUA sairão do acordo do clima. “A ideia é justamente trazer o assunto para a pauta política, destacar o que cada uma destas grandes economias está fazendo para enfrentar o desafio climático, compartilhar boas práticas e renovar as esperanças, porque, de fato, ainda temos chances”, disse Figueres.
O aumento de temperatura que o planeta já experimentou neste século serviu para mostrar que os impactos sociais das mudanças climáticas, como as ondas de calor, as secas e o aumento do nível do mar, afectam especialmente os mais pobres. Os mantos de gelo na Groelândia e na Antártida perdem massa a uma taxa crescente, aumentando o nível do mar; da mesma forma, o gelo marinho de verão do Ártico; além, dos recifes de corais, que morrem devido ao aquecimento das águas.
“A boa notícia é que ainda estamos a tempo de atingir as metas do Acordo de Paris se as emissões caírem até 2020”, afirma Hans Joachim Schellnhuber, director do Instituto para Pesquisa de Impactos Climáticos de Potsdam, na Alemanha. Nos últimos três anos, as emissões mundiais de gás carbónico por queima de combustíveis fósseis permaneceram estáveis, enquanto a economia global cresceu pelo menos 3,1% ao ano.
A taxa actual de emissão, de 41 mil milhões de toneladas de gás carbónico por ano, ainda está acima do que podemos emitir. Significa que, no ritmo de agora, em quatro anos, ultrapassaríamos o limite de emissões que daria à humanidade uma chance de estabilizar a temperatura em 1,5 °C. “É agora ou agora. Não podemos esperar mais”, diz Schellnhuber. “Se nos atrasarmos, as condições de vida no planeta serão severamente restringidas.”
Para evitar o pior, segundo Schellnhuber, é preciso usar a ciência para orientar decisões e estabelecer metas, replicar com agilidade as boas práticas de sustentabilidade e, sobretudo, incentivar o optimismo. “Temos inúmeras histórias de sucesso que precisam ser compartilhadas. É o que vamos fazer já na reunião do G 20 na Alemanha”, disse.
Eis as metas estabelecidas pela Missão 2020 para cada sector da economia:
- Energia: as energias renováveis devem compor pelo menos 30% do fornecimento de electricidade no mundo em 2020, contra 23,7% em 2015. Nenhuma usina a carvão poderá ser aprovada daqui a três anos.
- Infraestrutura: cidades e estados darão sequência aos seus planos de descarbonização, o que inclui a construção de edifícios e infraestruturas até 2050, com financiamento previsto de 300 mil milhões US$ por ano.
- Transporte: os veículos eléctricos deverão compor pelo menos 15% das vendas de automóveis novos globalmente até 2020 e os híbridos devem avançar 1%. O uso do transporte em massa nas cidades deve dobrar, a eficiência de combustível em veículos pesados deve aumentar 20% e a emissão de gases de efeito estufa na aviação por quilómetro percorrido deve diminuir 20%.
- Uso da terra: novas políticas deverão proibir o desmatamento e os esforços devem-se concentrar em reflorestamentos. As práticas agrícolas sustentáveis terão de se espalhar pelo planeta e aumentar o sequestro de gás carbónico.
- Indústria: a indústria pesada desenvolverá planos para aumentar a eficiência e reduzir suas emissões, com o objectivo de diminuir para metade a emissão de gases com efeito estufa até 2050. Actualmente as indústrias de ferro, aço, cimento e petróleo emitem mais de um quinto do gás carbónico mundial.
- Finança: o sector financeiro precisará ter pensado na forma de mobilizar pelo menos 1 bilião US$ por ano para a acção climática. Governos, bancos privados e credores, como o Banco Mundial, vão emitir títulos verdes para financiar os esforços de mitigação do clima. Isso criaria um mercado anual que, até 2020, processaria mais de dez vezes os 81 mil milhões US$ em títulos emitidos em 2016
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