terça-feira, 18 de dezembro de 2012


ZHOU WEN WANG



Deixando a lenda e caminhando já na história, no final da dinastia Shang, o temível tirano Di Xin, ao ser confrontado, mandou encarcerar Ji Chang  que o acusava da perversidade com que governava. 
É no cárcere que Ji, o futuro Rei Wen, ocupa o seu tempo a reflectir sobre os trigramas de Fu Xi e agrupando-os dois a dois criará os 64 hexagramas, dando-lhes mais tarde o 
"nome" 
e escrevendo um breve texto resumindo o significado de cada um deles, a que se chamarão 
"Julgamentos"

Apesar de ter sido o seu filho Wu Wang (Rei Guerra) que, vencendo o déspota Di Xin instala a dinastia Zhou, é a Wen Wang (Rei Civilização) que se atribui o início desta.

Após a morte de Wu Wang, sendo o seu filho demasiado jovem para governar, a regência é confiada a seu tio, Zhou Gong, o sábio "duque dos Zhou".  Este, para instruir o jovem herdeiro, redige uma explicação para cada uma das seis linhas de cada hexagrama a que serão chamadas 
"Textos das linhas".

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

QUE NESTE NATAL AS VOSSAS PRENDAS SEJAM :

LONGEVIDADE  -  PROSPERIDADE  - FELICIDADE                                                     


domingo, 2 de dezembro de 2012

BA GUA

A lenda diz que Fu Xi "discerniu" o ba gua sobre a carapaça de uma tartaruga que saía do rio...


tartaruga








Terá sido este o processo de associação de ideias que levou à "representação abstrata do dinamismo universal" ???



domingo, 25 de novembro de 2012


TRÊS SOBERANOS

"As lendas e os mitos constituem a explicação das origens dos povos"




                   O primeiro em antiguidade e importância.

Atribui-se-lhe a invenção da escrita ideográfica, a arte de contar por meio de cordões entrelançados, os ritos de decoro e etiqueta e principalmente os  "BA GUA", representação abstrata da dinâmica universal.
A lenda diz que ele discerniu  estes oito sinais sobre a carapaça de uma tartaruga que saia do rio.


 
Também  chamado "Divino Agricultor"
 ou "Imperador dos cinco grãos", 
é considerado o criador da agricultura.

Ensinou a semear e cultivar, o fabrico de instrumentos agrícolas, a irrigação e a arte da culinária.
Por ter experimentado em si os efeitos de centenas de plantas, é-lhe atribuída a descoberta da fitoterapia.


                                                  É conhecido como o "Imperador Amarelo".

Com ele surgiu a organização social e a moeda, a arquitectura em madeira e a construção naval, o uso do arco e das flechas.
Foi no seu tempo e por ideia de sua mulher que começou a cultura e o fabrico de roupa em seda.
Ainda teria sido o iniciador da medicina, com o livro "Huang di nei ching".

terça-feira, 20 de novembro de 2012

12

Do outro lado da Via Láctea resplandesce um palácio feito com os mais subtis materiais. Nele tudo vibra em harmonia sábiamente ordenada. As paredes são tecidas de raios de luar prateados, as colunas douradas são feitas de raios de sol entrançados e os telhados de brumas e nebelinas cintilantes. Este palácio é a morada do Imperador Celeste, que habita nele para governar o universo inteiro. Ele vela pelo bom funcionamento dos três mundos: o Céu, a Terra e os Infernos. Mesmo ajudado por uma corte de ministros e funcionários, todos dignos Imortais, a sua tarefa não é fácil. Controlar o curso dos planetas e a trajectória dos cometas, manter o frágil equilíbrio do Yin e do Yang, sombra e luz, demónios e justos. 
Há sempre acidentes e para evitar catástrofes o Imperador Celeste vê-se obrigado a ter, todos os dias, audiência na sala do trono, onde recebe mensageiros e embaixadores, aconselha-se com os seus ministros, dá ordens e faz justiça.


Numa dessas audiências um mensageiro entregou uma carta que subira em fumo. Vinha da Cidade Proíbida, do Imperador da China.
"Eu, soberano do Império do Meio, vosso humilde servidor por vosso mandato, ouso dirigir-me a Vossa Grandeza, para vos dar conhecimento de uma grave ocorrência acabada de acontecer no meu modesto palácio.
Um macaco imortal de temíveis poderes cometeu um roubo no arsenal, que quase destruiu.
Nós vos suplicamos, pois, que identifiqueis e castigueis o culpado porque, cá em baixo, nada podemos contra um imortal de tal espécie."

Quando leu a carta, o Imperador franziu o sobrolho. Nunca tinha ouvido falar de um macaco imortal.
Ordenou que se fizesse um inquérito.

Apareceu de seguida na sala do trono um funcionário que disse:
- Que Sua Augusta Magestade se digne escutar a queixa do seu humilde servidor, ainda que indigno de lhe dirigir palavra.
Eu, pequeno Rei Dragão, pretendo informá-Lo que um macaco dos mais demoníacos semeou a perturbação e a consternação no meu palácio. Depois de ter cometido estragos consideráveis, roubou-me uma arma e vestes inestimáveis. Para acabar, insultou-me grosseiramente.
Os seus poderes são tais que nem guardas nem eu pudémos dominá-lo. Peço a Sua Grandeza que mande prender este perigoso indivíduo.

O Imperador Celeste fez um esgar e declarou:
- Se se tratar do mesmo macaco não vos inquieteis, em breve o teremos capturado. Já está um inquérito em curso.

Veio então um outro funcionário que se prostrou por três vezes diante do trono e, sem erguer a cabeça, disse:
- O grande perfeito governador do território das Trevas e dos departamentos dos Infernos, envia-me a informar Sua Alteza Suprema de uma terrível desgraça.
Desde a noite dos tempos, o Céu é a morada dos espíritos imortais cuja alma está no caminho da sabedoria e o território das Trevas a residência dos espíritos fantasmas cuja alma ainda deve sofrer e reencarnar para se aperfeiçoar. Além disto, segundo as leis cósmicas, os animais são seres que não podem pretender à imortalidade celeste. 
Ora pela primeira vez desde a criação do Mundo, um ser infringiu esta regra imutável. Trata-se do Rei Macaco, domiciliado no Monte das Flores e dos Frutos. No momento da sua comparência perante o Tribunal dos mortos, ele falsificou o registo das almas e conseguiu fugir, massacrando um grande número de espíritos guardas das Trevas. 
Não tendo meios de capturar este perigoso criminoso, o grande perfeito Yan Luo depõe este assunto nas mãos de Sua Alteza Sereníssima.

O Imperador Celeste bateu com o punho no braço do seu trono e exclamou:
- Esse macaco começa a fazer-nos perder a paciência! 

Suspendeu de imediato a audiência para reunir o conselho de ministros e esperar o resultado do inquérito.
Não tardou que dois finos inquiridores celestes, os grandes inpectores Olho Bem Penetrante e Ouvido Envolvente, viessem dar conta das suas buscas. Explicaram em pormenor quem era o Rei Macaco e confirmaram todos os delitos que ele cometera.

- Muito bem, caros ministros, qual a vossa opinião sobre o castigo que este criminoso merece?
- A morte sumária, rugiu o ministro da guerra, com esse tipo de demónio não se deve hesitar. Enviemos sem demora uma expedição punitiva.
- É incrível, declarou então o espírito da Estrela Polar, ouvir tais propostas no Céu. Esquecestes o princípio elementar dos Imortais: "Ter de vencer é sinal de fraqueza, saber convencer prova de sabedoria"? Este macaco tem algum mérito para ter adquirido a imortalidade e tais dons. Deixemos-lhe uma oportunidade de se redimir e mudemos o veneno em remédio. Dêmos-lhe um posto no Céu. Assim, ele ser-nos-à útil e nós tê-lo-emos sempre debaixo de olho. Ao menor desvio, não teremos sequer de descer à Terra para o punir.

Na sua grande benevolência, o Imperador Celeste optou por este sábio conselho e confiou ao espírito da Estrela Polar o cuidado de o fazer executar.

Depois de atravessar a Via Láctea, pousou no cume do monte das Flores e dos Frutos e admirando a paisagem explêndida dirigiu-se para a cascata das Pérolas.
Um gorila sentinela, ao vê-lo aproximar-se, entrou precipitadamente no palácio para prevenir o chefe da presença de um visitante estranho. Nunca vira um ser de tal espécie, todo cintilante de luz.
O Rei Macaco ajeitou as suas vestes e saiu a ver do que se tratava.

- Eu sou o espírito da Estrela Polar. Sou portador de uma convocatória oficial do Imperador Celeste que vos convida para o seu palácio das Alturas etéreas. Por proposta minha e tendo em conta os vossos méritos, ele quer confiar-vos um importante posto no Céu.
- Oh, venerável estrela, estou louco de alegria. Há algum tempo que desejava ir dar uma voltinha lá pelas alturas. Já viajei na terra e no fundo do mar, já visitei os Infernos mas nunca o Céu. Entrai no meu palácio e bebei uma taça de vinho. Deveis ter sede após tão longa viagem.
- Não, obrigado, o Imperador espera-nos. Está impaciente para vos conhecer.
O Rei Macaco disse, então, ao seu povo:
- Queridos amigos, vou fazer uma viagem às Alturas. Sede sensatos. Não demorarei, mesmo que a estadia seja agradável. Encontrarei maneira de voltar a descer ou de vos fazer subir.


Seguindo o espírito da Estrela Polar, o Rei Macaco atravessou a Via Láctea.

.....continua.....

domingo, 18 de novembro de 2012

WEN TZE
Tongxuan zhenjing
(Mestre Wen
Livro da verdadeira compreensão dos mistérios)


129

Os líderes que querem governar são raros; os ministros dignos de participar no governo são virtualmente inexistentes. Poucos buscam o que é virtualmente inexistente; essa é a razão porque um governo perfeito surge a cada mil anos. 
O facto é que raramente existe um governo eficaz e virtuoso. 
Se o governante acompanhar as boas intenções das pessoas, evitar que tenham más intenções e agir em harmonia ao longo de um só caminho, então as pessoas podem melhorar e os costumes ganham beleza.

Os sábios não são admirados porque estabelecem penalidades conforme os crimes, mas porque sabem de onde surge a desordem. 
Se o limite é rompido e se se permite que a desordem siga seu curso, sem restrições, fazendo com que apenas a lei seja cumprida e a punição ocorra, então, ainda que a traição destrua o mundo, não pode ser evitada. 

terça-feira, 13 de novembro de 2012


P'AN KU
O mito chinês da criação

O Caos existia em forma de ovo.
Nele se gerava P'an Ku, tomava forma.
Ao fim de 18000 anos quebrou a casca, nasceu. 
Erguendo-se levou para cima o que era leve, subtil, o Yang e assim se formou o Céu
Para baixo, empurrou o pesado, denso, o Yin e daí apareceu a
Terra
Durante 18000 anos, P'an Ku desenvolveu-se, cresceu 10 li por dia e Céu e Terra cada vez se afastavam mais, sendo o espaço entre eles ocupado pelo corpo de P'an Ku.
Ao fim desse tempo, P'an Ku morreu e o seu corpo deu origem à  natureza.
Os olhos formaram, o direito o sol e o esquerdo a lua.
A respiração o vento, a transpiração a chuva e da voz surgiu o trovão.
O sangue tranformou-se nos rios e mares e os ossos nos minerais e pedras preciosas.
As montanhas das quatro direcções transmutaram-se dos quatro membros, as árvores e arbustos dos pêlos.
A terra que pisamos, o chão, veio da pele de P'an Ku. 
E as pulgas... as pulgas tornaram-se os antepassados da humanidade.


sábado, 10 de novembro de 2012


Os Portais do Paraíso 


Um orgulhoso guerreiro chamado Nobushige foi até Hakuin, e perguntou-lhe:
- "Se existe um paraíso e um inferno, onde estão?"
- "Quem é você?" perguntou Hakuin.
- "Eu sou um samurai!" exclamou o guerreiro.
- "Você, um guerreiro!" riu-se Hakuin. "Que espécie de governante teria tal guarda? Sua aparência é a de um mendigo!".
Nobushige ficou tão raivoso que desembainhou o sabre, mas Hakuin continuou: 
- "Então você tem uma espada! Sua arma provávelmente está tão cega que não cortará minha
cabeça..."
O samurai num gesto rápido avançou pronto para matar, gritando de ódio.
Neste momento Hakuin gritou:
- "Acabaram de se abrir os Portais do Inferno!"
Ao ouvir estas palavras, e percebendo a sabedoria do mestre, o samurai embainhou o
sabre e fez-lhe uma profunda reverência.
- "Acabaram de se abrir os Portais do Paraíso," disse suavemente Hakuin.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012


Um professor de filosofia foi ter com Nan-in, mestre zen, e perguntou-lhe sobre o nirvana, o despertar, meditação, o tao, Deus e muitas outras coisas.
O mestre ouviu em silêncio e depois disse:
- Pareces cansado. Vieste de longe e escalaste esta montanha, deixa-me, primeiro, servir-te um chá.

Nan-in executou na perfeição todo o ritual do chá.
Fervilhando de perguntas, o professor esperou.

Quando serviu o chá, o mestre encheu a chávena do visitante, encheu, encheu, transbordou, encheu o pires até que...
- Pára, não vês que já está cheio?
- É exactamente assim que te encontras. A tua mente está tão cheia que mesmo que te responda não tens espaço para a resposta. Sai, esvazia a chávena e depois volta.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

TAO



CABEÇA

andar com sentido, inteligência no caminho, cabeça que "anda"...

A escrita chinesa é fascinante...  


Tratado da harmonia do chi das 4 estações com o espírito humano


Os 3 meses da primavera são a época da renovação de todas as coisas. Com tudo florescendo, o mundo fica cheio de vida.
Para estar de acordo com a estação, deve-se ir para a cama um pouco mais tarde e levantar um pouco mais cedo. Dar um passeio pela manhã, relaxar o corpo, soltar o cabelo e refrescar a mente. Deixar crescer e não perturbar; dar e não privar.
Esta é a maneira de cultivar o chi da vida. 

Os 3 meses do verão são a época do crescimento sumptuoso. O chi do céu desce e o chi da terra sobe. Tudo frutifica.
Para estar de acordo com a estação, deve-se ir para a cama tarde e levantar cedo. Não se cansar durante o dia, estar sempre animado e não se zangar. Estar tão vivaz como uma planta fresca para manter o yang chi circulando bem dentro do corpo.
Esta é a maneira de "nortear" o chi do desenvolvimento.

Os 3 meses do outono são a época da colheita. O chi do céu é intenso e o chi da terra, límpido. Tudo muda de cor.
Para estar de acordo com a estação, deve-se ir para a cama cedo e levantar cedo, com o cantar do galo. Com o espírito em paz, relaxado, mantendo o chi em harmonia, sem dar expansão aos desejos, ajuda a resistir à influência adversa do ar frio do outono.
Esta é a maneira de adaptar ao chi da colheita.

Os 3 meses do inverno são a época de fechar e armazenar.
Para estar de acordo com a estação, deve-se ir para a cama cedo, com o pôr do sol e levantar tarde, depois do nascer do sol. Não perturbar o yang. Reprimir e ocultar os desejos, feliz e satisfeito. Fugir do frio e procurar calor.
Esta é a forma de preservar o chi do armazenamento.


in    "nei ching"






sábado, 3 de novembro de 2012

11

O Rei Macaco saiu do oceano sem se molhar e pelos ares regressou ao seu palácio em poucos minutos.
O povo aclamou o seu regresso e admirou a arma, as vestes e os ornamentos divinos que trazia.
- Estais tão belo, diziam.



- Isto não é tudo! Vejam o que sei fazer com a minha nova arma.
E fê-la voltear nas mãos, lançou-a ao ar onde fez piruetas, apanhou-a e rodopiou-a cada vez mais rápido, voltou a atirá-la ao ar cada vez mais alto. Nem só uma vez caiu no chão. Todos o aplaudiam e ele disse:
- Ainda não vistes tudo.
Disse um mantra, fez um mudra e o bastão cresceu, cresceu, cresceu até tocar, em cima o céu e em baixo a terra.


- Meus amigos, não há nada tão eficaz como uma arma secreta. Pronunciou, então, outro mantra e o bastão de punhos dourados mingou até o tamanho de uma agulha. Colocou-o na orelha, esfregou as mãos e a agulha desapareceu.

Fatigado pela exploração submarina e por esta demonstração, estendeu-se à sombra de um cipreste para uma pequena sesta.


Tinha os olhos fechados como se dormisse. De repente, sentiu uma presença a seu lado. Olhou e viu dois seres. Um com uma rede prateada, brilhando como raios de luar, ao ombro. O outro leu a placa de marfim que tinha na mão e perguntou:
- Sois vós o Rei Macaco?
- Sim, sou eu.
Imediatamente lançaram a rede sobre ele e puxaram-no violentamente. O Rei Macaco queria debater-se, mas tinha perdido todos os seus poderes. Não podia resistir-lhes. Arrastado pelos desconhecidos, perguntava-se se não seria um sonho. Deveria ser um pesadelo, pois nada no mundo o poderia levar contra sua vontade. A paisagem corria cada vez mais rápido. Ele já não sabia se viajava no espaço ou em recordação. Encontrou-se no meio de um intenso nevoeiro, pouco a pouco os dois guardas diminuiram a velocidade e foi então que se apercebeu de um marco onde estava escrito  "Território das Trevas".


Percebeu que aqueles eram os pescadores de almas. Debateu-se sem nada conseguir e gritou:
- Deixem-me. Sou um Imortal.
Os guardas, sem nada responderem, levaram-no perante o tribunal dos Infernos.
Mal entrou, o Rei Macaco exclamou:
- Isto é um erro judiciário, sou um Imortal, o meu corpo não é mais composto pelos cinco elementos e eu escapo à vossa jurisdição!
- Calma, respondeu Yan Luo que presidia à sessão, raramente os nossos serviços cometem erros. Na sua grande benevolência o tribunal vai proceder a averiguações. Tragam o Livro das Almas!
O escrivão apressou-se a apresentar os registos a Yan Luo, que queria verificar pessoalmente se o seu pessoal fazia bem o seu trabalho. Observou o índice e disse:
- Ora vejamos... insectos, não... mamíferos, quadrúpedes, primatas. Bom
Foi voltando as páginas, tossicou e disse:
- Cá está, macacos! Chimpazés... não. Gibões... também não. Vós não sois nem gorila nem sagui. Estranho!
- Vedes que não estou aí. Sem dúvida é um erro.
O escrivão tomou a palavra:
- Creio que há um anexo para as almas não classificáveis...
- Efectivamente há uma rubrica para as almas muito especiais. A que tem o número 23a-14/c parece corresponder ao previsto: Rei dos Macacos, nascido no monte das Flores e dos Frutos por acção conjunta do Céu, do vento e dos elementos, etc..., etc.., etc..., Duração de vida: 99 anos.
- Não é possível! Tirem-me esta maldita rede para poder ler com os meus próprios olhos.
O grande perfeito Yan Luo fez um gesto para os guardas soltarem o prisioneiro. O Rei Macaco pegou nos registos e leu.


Leu a mesma coisa que acabara de ouvir. De raiva arrancou a página que lhe dizia respeito, fez com ela uma bola e enguliu-a. Agarrou numas outras do capítulo dos macacos e deu-lhes o mesmo destino. Atirou o livro pela sala fora e gritou:
- Agora estamos quites. Corrigi o erro judiciário e paguei-me dos danos e juros da deslocação.
Yan Luo gritava ordens e os espíritos guardas das trevas acorriam. Empunhavam lanças e alabardas.
O Rei Macaco passou a mão na orelha, recitou um mantra e a agulha voltou a ser do tamanho de um bordão. Fez voltear em redor e abateu alguns guardas. O grande perfeito e os dez juízes dos mortos ergueram as suas vestes e saíram a correr da sala do tribunal pela porta das traseiras.
O Rei Macaco abria caminho a golpes de ferro, saiu pela porta principal, correu pelo território das sombras, perseguido pela matilha hululante dos espíritos guardiões. Por fim passou pelo marco que assinalava a fronteira do território das trevas, penetrou no espesso nevoeiro.


Foi quando estrebuchou e caiu de costas. No mesmo instante acordou à sombra do cipreste. Os seus ministros velavam a seu lado.
- Ainda estais muito pálido. O vosso sono era muito agitado. Haveis tido, sem dúvida, um terrível pesadelo.
- Não vistes dois seres estranhos?
- Não, não vimos ninguém e não saímos daqui!
O Rei Macaco coçou a cabeça. Sonhara ou estivera de verdade lá nos fundos? Em todo o caso estava contente por se ter saído tão bem. Tinha um gosto desagradável na boca, assim como que um gosta a papel mascado...
- Eh, amigos, vamos beber um copo! Esta sesta secou-me a garganta.

.....continua.....









quarta-feira, 31 de outubro de 2012



O Tao normal

Nada há de estranho no tao. Quem tem gosto pelo estranho já se perdeu na estrada. O vívido simbolismo dos textos é sómente... simbolismo. Ditados e provérbios comuns estão em concordância com o tao dos sábios. O fundamento da magia existe nas actividades diurnas e noturnas. O misterioso e maravilhoso Plano Interior é perfeitamente óbvio, mas o ignorante não o contempla com cuidado.

in "refrões de lamento" de Liu I Ming

terça-feira, 30 de outubro de 2012

No sopé do monte Qingyuan, em Fujian, há uma estátua de Lao Tze, talhada na rocha.


Durante anos um jovem pensou ir às montanhas para ver essa estátua. Ele adorava as palavras do Velho Mestre, o estilo de vida que levava, mas nunca tinha visto uma escultura sua. Passaram-se vários anos e havia sempre coisas que o impediam de satisfazer o seu desejo.
Certa noite decidiu-se a ir; não era muito longe, ficava a apenas cem li da sua casa, mas ele era pobre e teria de ir a pé.
A noite estava escura, pegou numa lamparina e dirigiu-se para as montanhas.

Ao sair da aldeia surgiu-lhe um pensamento: "Cem li ! Eu tenho apenas dois pés, esta caminhada há-de matar-me, estou a pedir o impossível, nunca caminhei tanto e não existem estradas. O pequeno trilho pela montanha também é perigoso. É melhor esperar pelo amanhecer".
Parou e sentou-se na beira do caminho.

Quando o sol nasceu, passou por ali um velho, que ao ver o jovem sentado lhe perguntou:
- Que estás aqui a fazer?
Após a explicação, o velho riu e disse-lhe:
- Há um ditado que diz "ninguém pode dar dois passos ao mesmo tempo". Não importa se a pessoa é poderosa, fraca, jovem ou idoso, passo a passo, um passo de cada vez e a pessoa pode percorrer dez mil li. Quem te disse que terás de caminhar sem parar? Podes levar o tempo que quiseres. Depois de dez li podes descansar um ou dois dias e apreciar a viagem. Este é um dos vales mais bonitos que existem, as montanhas mais belas e as árvores estão carregadas de frutos.  Eu estou a ir para lá e podes vir comigo. Fiz este caminho muitas vezes e tenho mais de três vezes a tua idade. Levanta-te e dá-me as tuas coisas. Segue-me. Faremos tantas paragens quantas queiras.

O que o velho tinha dito era verdade. Quanto mais entravam na floresta mais a paisagem se tornava bonita e luxuriante, as frutos silvestres eram deliciosos e sempre que ele queria descansar o velho estava disposto a parar.

Os cem li passaram rápidamente e eles chegaram a uma das mais belas estátuas de um dos homens mais notáveis que caminharam sobre a terra. Aquele sítio tinha algo especial.

De repente o velho afirmou:
- Agora começa a jornada!
- O quê? Pensava que depois destes cem li a viagem tinha terminado!
- A realidade é que a partir deste ponto, a partir deste ambiente, desta atmosfera, começa uma jornada de mil li.
E quando lá chegares encontrarás um velho, quem sabe se eu mesmo, que te dirá de novo:
"Esta é apenas uma paragem. Segue em frente. Seguir em frente é a mensagem".

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

10

O Rei Macaco recordou-se de ter ouvido falar dos tesouros que se amontoavam no Palácio Submarino do Rei Dragão. Dizia-se serem maravilhas que ultrapassavam, em muito, os miseráveis objectos em ouro, jade e cristal que existiam nos palácios dos humanos. Decidiu ir fazer uma visitinha de cortesia! 
Após uma viagem de dez minutos pelos ares, pousou na costa oriental. Fez o mudra e disse o mantra da penetração na água, entrou pelas ondas e caminhou pelo fundo do mar sem se molhar.
Descobriu uma paisagem magnífica: rochedos musgosos, pradarias de algas ondulantes, cardumes de peixes de escamas cintilantes... De súbito deu com dois guardas com cabeça de tubarão, de lanças na mão...


Mal teve tempo de os saudar. Alarmados tinham partido a toda a velocidade alertar o superior. Nunca se tinha visto um macaco no fundo do mar e julgaram tratar-se de um demónio. Do capitão caranguejo, passando pelo general baleia, a notícia chegou ao Rei Dragão, que declarou prudentemente:
- Se esse estrangeiro não está molhado deve ser um Imortal enviado pelo Céu para inspeccionar o meu reino. Recebam-no como convém!

O Rei Macaco, rodeado pela comitiva, maravilhado com o que via, não parava de gesticular e de gritar. Era jardins com canteiros de corais, anémonas e estrelas do mar, veredas de areia dourada com vários motivos, colunas de madrepérola e tectos de conchas, as armaduras brilhantes dos crustáceos da guarda real, as paredes cobertas de ouro na sala do trono, móveis talhados em pedras perciosas e pérolas gigantescas... Achou aquilo tão belo que não podia impedir-se de saltar e fazer piruetas.
"Mas que espécie de Imortal será este? perguntou-se o Rei Dragão, tem uns modos bizarros. A menos que no Céu esta seja a última moda de saudar."
Nada deixou transparecer deste pensamento, desejou as boas vindas ao hóspede e mandou que lhe servissem chá de algas fumadas e bolinhos de areia.


- Puah, que horror! - disse o Rei Macaco perante o olhar aterrado da corte submarina que o vira cuspir o trago de chá que tinha bebido, salpicando os pés do Rei Dragão. 
É com uma bebida tão abjecta, que se diria um medicamento, que me recebeis no palácio? Não fabricais nenhum licor doce?
- Claro que sim. Trazei o vinho de corais! - ordenou o Rei Dragão que continuava a pensar ter diante de si um inspector celeste.
- Ah, este já não é mau.
- Ainda bem que gostais. Explicai-me, então, o motivo da vossa visita e dai-me notícias lá do alto.
- Sou o Rei Macaco, vosso vizinho. O meu reino não fica longe daqui e vim fazer uma visita de cortesia.
- Então não sois mais de que um vulgar animal da terra...
- Olhe lá! Seja educado ou vou puxar-lhe os bigodes! Eu sou filho do Céu, adquiri a Imortalidade e os setenta e dois poderes. Apesar da vossa estatura poderia fácilmente pôr-vos chato como um linguado.
- Comportê-mo-nos como pessoas bem educadas. O que posso fazer por vós?
- Ouvi dizer que o vosso palácio é um verdadeiro cofre-forte onde dormem montanhas de maravilhas. Não tendes, por acaso, uma arma à altura dos meus talentos?
O rei mandou os seus servos desprenderem da parede um sabre de aço com o resguardo encrustado de esmeraldas. A arma pesava perto de mil jin. O Macaco pegou nela, fez alguns molinetes e entregou-a, dizendo:
- Muito leve para mim, quase não a sinto na mão. Dai-me outra coisa.
Trouxeram-lhe uma lança talhada num longo diamante. Pesava bem uns dois mil jin. Assim que o Rei Macaco lhe pegou, ela quebrou. Deram-lhe, então, uma alabarda feita de uma costela e omoplata de uma baleia. Cerca de três mil jin era o peso dela.


O macaco fê-la voltear à sua volta e ao passar partiu um jarrão de jade.
- Prestai atenção, exclamou o Rei Dragão, era um presente de casamento.
- Desolado, mas esta arma, também a não sinto na mão. Dai-me uma arma digna de mim.
- Nada melhor tenho para vos ofereçer. Levai-a e deixai-me, nada mais posso fazer.
- Não, não, não! De certeza tendes algo melhor. Não partirei daqui sem levar o que vim cá buscar.


O assunto estava embaraçoso. O Rei Dragão sentia-se perturbado. O macaco parecia tão perigoso... Foi então que a sua esposa, a Rainha Dragão, se aproximou para lhe dizer ao ouvido:


- Querido esposo, porque não lhe dais aquele bastão de ferro que está no pavilhão Umbigo do Oceano?
- O quê? Nem pensar. Devemos conservá-lo piedosamente. O grande You, nosso antepassado, serviu-se dele para a criação da terra, para aplanar o fundo dos mares. Além disso, só ele o pode erguer.
- Uma arma divina? É isso que me convém! Onde está ela? - exclamou o Macaco.
O dragão preferiu levar o seu indesejável hóspede ao pavilhão. O Rei Macaco lá descobriu uma imensa barra de ferro que irradiava uma luz azulada. Era uma coluna de três chang de comprimento e cada uma das extremidades era coberta por um punho de ouro.


O Macaco ergueu-a com uma só mão e tentou aprumá-la. A manobra fez voar em bocados uma parede de cristal e furou o tecto de conchas.


- Oh! Ela pesa pelo menos doze mil jin - pensou o Rei Macaco. Sinto-a bem na mão, mas é demasiado comprida para poder manejá-la.
Disse um mantra e ela reduziu-se ao tamanho de um bordão.
- Deste modo é uma arma mais concentrada. Só se tornará mais eficaz.
Quando o Rei Dragão o viu voltar com o famoso bastão de ferro, pôs-se a tremer. Nunca tinha visto um ser tão poderoso. Tentou não mostrar o seu pavor.
- Muito bem, querido vizinho, eis-vos satisfeitos. Só nos resta despedir-nos.
- Nada de pressas, mal travamos conhecimento e logo me despedis. Não sois muito delicado.
- Não tendes já o que desejáveis?


- Pois não! o que pareço agora? Tenho uma arma divina e vestes desbotadas. Isto não liga bem. Deveis dar-me também uma veste divina... Não vos esqueceis que "aquele que cava um poço, se não atinge a nascente, perdeu o seu trabalho". Não vos deixarei cometer esse erro. Eu velo pela vossa alma e se for preciso utilizarei os grandes meios!
O Rei Macaco fez voltear o bastão de ferro que sibilou no ar.


O Rei Dragão tapou a cara com as mãos e disse:
- Parai, não quebreis mais nada por aqui. Dar-vos-ei um trajo e adornos dignos de um rei celeste.
Por ordem sua, as servas tartarugas foram ao guarda roupa e trouxeram um capacete de ouro ornamentado com plumas de fénix, uma armadura de diamante e botas bordadas com pérolas raras. O Rei Macaco aplaudiu e vestiu-os. Depois abandonou o Palácio Submarino dizendo:
- Adeus e nada de rancores, velho monstro!


O Rei Dragão permaneceu mudo como uma carpa. Nunca ninguém o tinha tratado por velho monstro.
"Bom, grande patife, adeus talvez, mas sem rancor é que não. Vais ouvir falar de mim em breve porque vou enviar um relatório ao alto local." 

                                  .....continua.....








terça-feira, 23 de outubro de 2012

"SENTIR O OUTONO"



A manhã parecia querer arruinar o encontro marcado no Jardim Botânico de Lisboa, neste domingo.



 Sorrisos e tenacidade, mas também interrogações, apareceram à chegada ...




... recebidos com um bem-vindos ...



seguimos para a "Clareira", local que nos tinha sido indicado como o ideal para a prática da nossa actividade. Ainda de chapéus de chuva em "punho"!



Abrigados começamos os exercícios ...



concentrados ...



em harmonia ...



diria que ... felizes ...




integrados com o que nos rodeava.



Estaríamos a sentir o outono?




Passeámos ...


admirámo-nos com os mistérios ...


as belezas próximas ...



e afastadas ...



 os cheiros e sons ...



que esta estação também tem.

Só não sentimos a chuva.

Grato a todos, ao Jardim Botânico e à Mãe Natureza.