segunda-feira, 1 de outubro de 2012

3

A existência dos macacos havia mudado muito.

Acabara-se a vida selvagem e livre nas árvores.

 De agora em diante habitavam num palácio. O que nasceu de uma pedra tomou o título de Perfeito Rei Macaco e nomeara o velho macaco sábio seu primeiro-ministro. Com os seus conselhos, começou a organizar o reino. Cada grupo recebeu um trabalho bem preciso. Os gorilas eram soldados e os gibões, mais astutos, oficiais. Tinham mocas de madeira e lanças de bambú. Assim mantinham afastados os tigres, as panteras e os caçadores. Os chimpanzés eram artífices e recolhiam os frutos. Fabricavam cestos de vime e potes de barro para transportar as colheitas. Os babuínos passaram a ser artistas, acrobatas, músicos , cantores e contadores de contos e tinham muito trabalho pois o rei dava muitas festas no palácio da Cortina de Pérolas.

Estas festividades eram muito alegres. Os macacos dançavam ao som de tambores, flautas e batidas de paus. Saboreavam os frutos mais suculentos, carnudos e saborosos das colheitas, bebiam vinhos de pêssego e figo, licores de amoras e cerejas !
O velho macaco sábio tinha transmitido aos seus semelhantes o segredo da fabricação do álcool !

A vida dos macacos era menos livre, mas eles não perdiam com a troca. Tinham a compensação da segurança, da abundância e dos novos prazeres. Que mais desejar ? Tudo se passava no meio do bom humor porque o Perfeito Rei Macaco era bondoso. Nas festas era sempre o primeiro a espalhar a alegria. Logo que acabava de presidir ao conselho de ministros, depois de assegurar que tudo ia bem no reino, ia entrgar-se às suas ocupações favoritas: provar saladas com gengibre e licores perfumados, visitinhas aos aposentos das  suas concubinas. Tinha várias macacas graciosas de lábios delicados, doces como pétalas de rosa. Vinte e oito, quase uma para cada dia do mês, o que lhe proporcionava muitas ocupações agradáveis... . O Rei Macaco tinha como modelo o imperador da China.

As Primaveras radiosas sucediam-se ás Primaveras radiosas, renovando sem cessar os prazeres e encantamentos. A vida dos macacos e do seu rei corria ao sabor da tranquilidade e do bem-estar.

Um dia, durante o mês das cerejeiras em flor, quando o povo macaco festejava o aniversário da coroação deu-se um estranho acontecimento: o Perfeito Rei Macaco permanecia sentado no trono de pedra tão imóvel como uma estátua de marfim. Ele que era sempre o primeiro a dançar e a divertir-se ! Os ministros ficaram inquietos. Aproximaram-se do trono. Foi então que viram rolar na sua face... uma lágrima.

- Que se passa, perguntou o velho macaco sábio, há alguma má notícia ?

- Não, não é isso, respondeu o Rei Macaco.

- Mas então, porque estais tão triste ? Festejamos o vosso real aniversário !

- É justamente por isso. Um ano mais. Estou a envelhecer... .

- Mas não, sois jovem e brilhante, estais na flor da idade !

- Ontem observei-me nas águas calmas do lago de cristal e descobri um pêlo branco no meu bigode. Todos aqui sofremos a lei do tempo. Vi morrer mais de um velho macaco e basta-me olhar-te a ti, meu querido primeiro-ministro, para ver o peso dos anos curvar as tuas costas. Um dia serei como tu, caminharei com uma bengala e não me restará muito tempo para viver. Não posso aceitar essa ideia. Porque não aproveitar eternamente os prazeres da terra ?

Perante este pensamento, todos os ministros baixaram a cabeça tristemente. Também eles pensavam na sua morte.
Então o velho macaco sábio disse:

- Majestade, na terra dos humanos ouvi falar de certos seres que a morte não pode atingir. Chamam-lhes Imortais. Eles são de várias espécies. Entre os homens, há os Veneráveis Sábios e os Feiticeiros. Entre os espíritos, há os Imortais do Céu e os Demónios. Mas deixai-me dizer que sómente os Veneráveis Sábios ensinam na terra o caminho justo que conduz à imortalidade, senão arrisca-se a seguir o caminho que conduz direitinho aos Demónios.

- Muito bem, disse o Rei Macaco, devolveste-me a alegria de viver. Irei em busca de um desses Sábios para que me ensine o seu segredo. Amanhã pôr-me-ei a caminho !

E o Rei Macaco voltou para a festa onde, como de costume, dirigiu a dança e presidiu aos divertimentos.

..... continua .....