terça-feira, 16 de outubro de 2012

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O Rei Macaco, às escondidas dos outros alunos, dirigia-se várias vezes por dia a uma gruta isolada, onde, no silêncio e na solidão, preparava o elixir de ouro no interior daquela cozinha que não era outra senão o seu próprio corpo. Depois de um ano de trabalho sentiu que a poção da imortalidade estava pronta. Activou a cozedura para ficar mais sólida e quando tal se produziu, teve enfim um outro corpo tão indestrutível como o diamante.
Correu para junto do seu Mestre para lhe anunciar a notícia.

- Muito bem, disse o Sábio, tens agora um corpo de luz. Transcendeste a morte. Poderás continuar a viver sem ter que reencarnar noutra forma.

- Sim. Ficarei na minha forma de macaco tanto tempo quanto durar o Céu e a Terra e estou bem contente. Creio que as minhas qualidades poderão ser úteis a toda a Criação.

- Talvez, mas não deves parar de te aperfeiçoar. Deves continuar a alimentar o teu corpo de diamante com a luz do espírito e reforçá-lo fazendo o Bem.

- Podeis estar tranquilo, assim farei.

- Falar é fácil, agir é difícil. Entre os dois há o oceano da ilusão. Devo prevenir-te de um outro perigo. O Grande Perfeito das Trevas e dos Infernos não gosta que escapem à sua autoridade, não admite que alguém possa subir ao Céu e viver entre os Imortais sem o seu acordo. Podes estar certo que enviará os pescadores dos mortos que lançarão a rede sobre a tua alma e arrastar-te-ão para o território da Sombra para que lá sejas julgado. 

- Que calamidade! Não me digais, Mestre, que fiz tantos esforços para atingir a imortalidade e ainda assim me arrisco a acabar no Inferno?

- Felizmente para cada problema sua solução. Vou ensinar-te o segredo dos setenta e dois passes mágicos. Poderás mudar de aparência à tua vontade, voar nos ares, tornar-te invisível e assim escaparás à polícia do Grande Perfeito das Trevas, na condição de te manteres sempre atento. Se deixares de estar vigilante sobre ti mesmo, eles acabarão por te apanhar.

E o Sábio ensinou-lhe os mudras e os mantras, gestos e palavras que dão os setenta e dois poderes mágicos.
Durante meses o Macaco exercitou-se. Não era muito fácil... a primeira vez que quis voar conseguiu descolar mas ficou de cabeça para baixo...

Os outros alunos que se deram conta da transformação do Macaco pensaram que ele teria um segredo e decidiram conhecê-lo.

Um dia quando passeavam pela floresta um deles disse:

- Há muito tempo que estás entre nós. Não achas que estás a perder o teu tempo? A procura da imortalidade para nós é difícil, para um animal como tu, é impossível.
Outro acrescentou:

- Mesmo vestido de rei, o macaco é sempre um animal e quando quer sorrir faz uma careta.
Todos riram às gargalhadas e o Macaco respondeu-lhes:

- Podeis rir de mim, mas eu sei que vos ultrapasso e muito. Tenho poderes que vós não tendes!

- Podes dizer o que quiseres que nós não acreditamos. 

- Pois bem, vou mostrar-vos o que sei fazer. Em que quereis que me transforme?

- Tenta transformar-te numa árvore.
O Macaco fez um mudra, disse um mantra, o seu corpo estremeceu e zás, tomou a aparência de um pinheiro.
Todos aplaudiram , nunca tinham visto tal maravilha.
De repente... grande silêncio. O Mestre acabara de aparecer. Com um gesto da sua vara afastou os discípulos, o Macaco nem se mexeu.

- É inútil jogares às escondidas, disse o Sábio, eu reconheci-te, incorrigível macaco. Toma a tua forma primitiva de primata.

O pinheiro estremeceu e surgiu de novo o Macaco.

- Apercebeste-te do que fizeste, miserável idiota? Mostraste aos teus colegasa os poderes que só pertencem aos Imortais. Arriscam-se agora a correr atrás dessas facilidades em vez de procurarem a verdadeira sabedoria. Os poderes mágicos só devem servir para te salvar de um grande perigo e para ajudar os outros.

- Mestre, não foi minha culpa. Troçavam de mim e eu quiz mostrar....

- Ah, infeliz, deixaste-te levar pelo orgulho! Não há maior defeito que esse. Ele conduzir-te-á, pela ponta do nariz, direitinho ao lugar dos demónios. Deixaste cair no teu corpo de diamante uma gota de imperfeição que te pode causar muitos dissabores.
Não tens mais lugar aqui. Mando-te embora. Volta para a tua terra e tenta corrigir a tua conduta. Sobretudo, não digas a ninguém quem te ensinou a imortalidade porque tenho vergonha de ti. 

O Macaco, com lágrimas nos olhos despediu-se do seu Mestre. 

Graças aos seus poderes elevou-se nos ares e voltou, mais rápido que o vento, para o monte das Flores e dos Frutos.
                                   
                                     .....continua.....

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