quarta-feira, 3 de outubro de 2012

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O Rei Macaco despediu-se do seu povo, confiou a governação ao velho macaco sábio e partiu.
Desceu a encosta verdejante do Monte das Flores e dos Frutos e enveredou por uma estrada traçada pelos homens que o levou através de campos até uma aldeia.

O Rei Macaco entrou agitando os braços e soltando gritos para saudar os homens. Estava feliz por encontrar pela primeira vez aqueles seres que tanto se lhe assemelhavam. Mas ele falava a linguagem de macaco... Quando os homens viram chegar aquele animal excitado agarraram em pedras e atiraram-lhas. O macaco teve que fugir a quatro patas para correr mais depressa. Enquanto fugia dizia para si:
"Ora esta, os homens não são muito acolhedores ! Não se tem tempo de dar os bons dias e já eles dizem adeus ! Não vai ser fácil viver no meio deles..."

Mas o Rei Macaco era matreiro... À saida da aldeia passou por um rio onde um homem se banhava. Escondeu-se atrás de um chorão, aproximou-se do lugar onde o nadador tinha deixado ficar as roupas, pegou nelas e escapuliu-se para uma moita de bambús. Aì o Rei Macaco vestiu-se como um homem. As calças e a túnica escondiam-lhe o pêlo e o grande chapéu redondo tapava-lhe o rosto. E continuou o caminho sorrindo ao pensar no homem que tinha que voltar para casa todo nú.

Assim, o Rei Macaco chegou incógnito a uma grande cidade.
Instalou-se na praça do mercado para observar a multidão que por lá passava. Estudou os gestos e a linguagem dos homens e porque era muito esperto soube logo comportar-se como eles.
Aprendeu também que não se podia viver no meio dos homens sem dinheiro. Não o tinha e teve que roubar alguns frutos de uma das cestas, para não morrer de fome. Um dos muitos guardas que vigiavam a praça apercebeu-se do roubo e começou a correr atrás dele. "Agarra que é ladrão !"- gritava. Outros guardas se juntaram e não tardaram a cercar o fugitivo... Exactamente quando iam apanhá-lo, o Macaco saltou para o telhado de uma casa e consegiu assim escapar-se por um triz à prisão. Não queria mais roubar. era demasiado arriscado. Teria, portanto, que arranjar um trabalho. Mas ele era rei, não queria sujar as suas delicadas mãos a varrer o pó, a cavar a terra ou a trabalhar o ferro. Também não sabia ler e escrever...
Pensou: "Porque não hei-de ser guarda ? Não é um trabalho muito fatigante. Pouco mais se faz que passear e vigiar discretamente. Pode-se ir a todo o lado e aprender muito, o que me permitirá talvez encontrar um Sábio Imortal. Bonito uniforme, armas brilhantes... De quando em vez é preciso agir e lutar. Arriscado se não se souber sevir-se bem das armas.
Comecemos pelo mais importante !"

O Rei Macaco procurou então na cidade uma escola de combate.
Ouviu falar de um mestre afamado pela sua eficácia.
O Macaco foi aceite como aluno e em primeiro aprendeu  a arte de luta com mãos livres. Exercitou-se a dar pontapés, murros, esquivas. evitar, fazer cair e imobilizar. Depois aprendeu o uso do bastão, da lança, da espada e de muitas outras armas usadas naquela época. Desenvolveu assim a sua concentração, força e rapidez. Em três meses tinha ultrapassado todos os outros, mesmo aqueles que lá se treinavam há dez anos.
Foi assim que o Macaco se tornou ele próprio um mestre muito considerado.

Mas o Rei Macaco não tinha esquecido o seu objectivo. Em qualquer lugar para onde se dirigisse perguntava se alguém conhecia um Sábio Imortal. Por toda a parte recebia um encolher de ombros, mas não desistia. Quando tinha percorrido um país mudava para outro e recomeçava a busca. De longe em longe ouvia histórias de Imortais, mas quando interrogava respondiam que tinham ouvido de um outro narrador ou tinham lido num livro.
Assim o Macaco acabou por aprender a ler. Pesquisou nas bibliotecas e encontrou livros com receitas da imortalidade, mas com nomes tão complicados que o Rei Macaco não percebia nada. O que queria dizer "abraço da serpente e da tartaruga, "a lebre de jade", "o corpo de diamante", "o elixir de cinábrio" ?...

- Que algarviada ! É forçoso que eu encontre um verdadeiro Sábio Imortal para me explicar todas estes mistérios !

E o Rei Macaco continuou o seu caminho. Viajou durante meses, anos, por vales verdejantes, planicies desérticas, montanhas escarpadas, florestas obscuras. Enfrentou muitos perigos, teve de combater centenas de tigres, lobos e bandidos. Felizmente nunca se separava do seu bastão, que manejava como ninguém.

Ao fim de sete anos tinha atravessado todo o continente. Chegara diante do oceano !
.....continua.....